É quase impossível nestes dias não seguirmos a bola que rola na Rússia. Aliás, este país que para muitos era muito distante tem se tornado mais próximo e entra nas nossas casas em plena 6h da manhã tornando familiar as construções coloridas dos “czares” e suas cúpulas em forma de bulbos.
No sábado, deixei a turma no sofá de casa comendo “chipa com mate” e fui à feira comprar frutas e verduras para a semana. Gosto do cheirinho fresco das folhas e dos temperos molhados que nos convidam a selecioná-los com um imenso gosto.
Um ventinho frio de inverno passava nos corredores largos, por entre as bancas e as frutas artisticamente empilhadas. Fui escolhendo os itens e dando baixa na lista.
Saí em direção à próxima banca, balançando as sacolas com mais liberdade que o habitual, notei então que o vai e vem das pessoas estava menor. Havia mesmo eram lojistas reunidos. Um pequeno grupo à frente gesticulava – e eles riscavam o ar com os dedos como se estivessem diante de um quadro. E qual era o assunto? Se você pensou em futebol, acertou. A seleção brasileira.
Nestes tempos, todos somos técnicos de futebol. Passei devagar por perto, os ânimos estavam acirrados e havia pouquíssima concordância sobre o próximo time a ser escalado.
Segui escolhendo alfaces lindos na banca de “seo” Júlio, que também estava atento às conversas do corredor. Perguntei o palpite dele para o próximo jogo do Brasil. Ele deu seu veredicto: – Um a zero e está de bom tamanho.
Respondi: – Só isso? O senhor não está animado com a seleção? Ou não gosta de futebol?
E ele emendou coçando a cabeça com ar de preocupação: – De futebol eu gosto. Não gosto é de perder dinheiro e ficar sem cliente. Tudo fica vazio em dias de jogo e depois dele também. Para falar a verdade, ainda não me esqueci da surra que levamos dos alemães e nem do prejuízo que tive nas vendas com as obras da Copa que estão aí, até hoje, sem terminar. Espero mesmo é que este tempo passe e não traga mais estragos por aqui.
E fechou com chave de ouro: – Na minha banca, este ano, de verde e amarelo somente os pimentões.
Escolhi a cebolinha e me fiz silêncio em respeito à sua particular apreensão. Sorri amarelo, finalizei as compras e voltei para casa pelas poucas ruas decoradas.
É bem verdade que não estamos inflamados nas ruas tanto quanto em outros anos – e que nas redes sociais tem muita gente torcendo pelo time da saúde, da educação, da segurança e contra os gastos excessivos com a seleção.
Contudo, apesar das nossas dúvidas em relação à Copa e à seleção brasileira, ainda têm torcedores entusiasmados com os jogos e com o futebol no Brasil.
O IBOPE[1] revelou que no jogo do Brasil com a Costa Rica, por exemplo, mais de 4 milhões de televisores estavam ligados. E isso porque o “brasileiro diz que não está nem aí para a Copa do Mundo”.
E como ficamos então? Empresto uma frase de Albert Camus para recepcionar todos os pontos de vista nestes tempos turbulentos e de conjecturas: “A miséria impediu-me de acreditar que tudo vai bem sob o sol, e o sol ensinou-me que a história não é tudo.”
Como filhos da mesma terra, escolha o seu pimentão verde ou amarelo, pois não há receita pronta para esta salada.
[1] Disponível em: <http://www.bastidoresdatv.com.br/colunas/brasileiro-sem-interesse-na-copa-audiencia-historica-da-globo-contraria-pesquisa. Acessado em 24 de junho de 2018.
Fonte: O livre